Dois traços típicos
da espécie humana nos trouxeram até aqui: a dúvida e a rebeldia. Só podemos representar
nossas ideias na tela de um computador ou de um smartphone porque acumulamos ao
logo de nossa história muitas perguntas e muita teimosia. Para sermos verdadeiramente
humanos, precisamos perguntar e desobedecer.
Se no primórdio de
nossa espécie tivéssemos silenciado todas as nossas dúvidas e subjugado todo o
nosso ímpeto de rebeldia, teríamos sido facilmente suplantados por outra espécie
mais sagaz. (Não que o modo de dominação da espécie humana sobre as outras seja
elogiável! Certamente não é! Mas isso é assunto para outro post).
Foram as constantes
perguntas que fizemos (e continuamos fazendo atualmente) – sobre um montão de
coisas (mundo, pedra, árvore, chuva, corpo, sexo, divindade, amor, desejo etc.)
– que pavimentaram nossa história.
Foram as
constantes recusas em seguir o óbvio e a norma que nos fizeram conquistar o
planeta e o espaço. Nossa inquietante iniciativa de perguntar e de insurgir
(subverter os limites do corpo, do pensamento, do espaço, do tempo) nos fez
construir o cosmos e explorá-lo.
De fato, a dúvida
e a desobediência estão na base do que somos (nosso ser), do que fazemos (nosso
poder) e do que conhecemos (nosso saber).
É importante
dizer que não foi por acaso que a nossa aventura no campo do saber (a construção da ciência)
tenha começado exatamente pela filosofia. Para fazer ciência, temos que partir de
uma dúvida e de uma insubordinação. Um mundo que não gera curiosidade e revolta
não pode ser conhecido, estudado, conquistado.
É lastimável que hoje
em dia, depois de tantos milênios de aventura filosófica, ainda existam pessoas
contrárias à filosofia, como se fosse possível viver sem filosofar. Ser
contrário à filosofia é simplesmente um contrassenso humano. É como se o vegetal,
de hora para outra, começasse a planejar uma política para a erradicar a
fotossíntese.
Em primeira e última
instância, só existe humano porque existe filosofia. Filosofo, logo sou humano.