Certo dia um lobo, depois de muitas investidas, conseguiu
capturar uma ovelha. Com sua presa cravada nos dentes, seguiu alegre sua
caminhada, feliz com o tanto de comida que tinha acabado de arranjar. Ao passar
por uma linda pastagem, depois de uma longa jornada, o lobo propôs à ovelha:
_ Acho que nós dois podemos nos dar bem. Eu estou com fome, e
você também está! Vamos fazer assim: eu deixo você encher a barriga nesse lindo
pasto hoje, e logo depois faço a minha refeição. Vou comer apenas uma de suas
quatro pernas.
A ovelha, sem ter o que fazer, concordou.
Pastou até se fartar, sob a vigilância cuidadosa do lobo. Quando já estava
visivelmente saciada, o lobo se aproximou e disse:
_ Agora é a minha vez de comer.
Ele avançou sobre a ovelha e lhe arrancou um quarto
dianteiro. Comeu com gosto. Ficou satisfeito. Depois estarem saciados, lobo e ovelha adormeceram.
No dia seguinte, o lobo voltou a falar para a ovelha:
_ Pode pastar à vontade. À noite faço a minha refeição.
A troca de favor entre o lobo e a ovelha se seguiu por alguns
dias, até que, no nono dia, o lobo devorou a cabeça da ovelha. Enquanto se
preparava para dormir, o lobo se encheu de orgulho de sua generosidade para com
a ovelha. Sentiu-se profundamente humanizado por permitir que a ovelha pastasse
por todos aqueles dias. Pensou no quanto os outros lobos, que devoram as
ovelhas imediatamente após capturá-las, são maus. Em êxtase, por sua profunda
bondade, logo adormeceu.
Na manhã seguinte, sentiu que deveria ensinar os outros lobos
a serem mais gentis com as ovelhas. Sentiu-se vocacionado a salvar os outros
lobos da barbárie. Passou, então, a mostrar para os seus amigos que as ovelhas, antes de serem devoradas
por completo, têm direito à alimentação.
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