“A verdade acontece
ao longo do diálogo. [...] Há que repetir uma e outra vez: a fé não é uma
questão de problemas, mas de mistério,
por isso nunca devemos abandonar o caminho da busca e da indagação”.
Tomáš Halík[1]
A verdade se insinua frágil e fugazmente
enquanto os diálogos e itinerários acontecem. Interrompidos os diálogos e os
itinerários, a verdade se derrete diante do calor escaldante do solipsismo e da
inércia.
Estou em um caminho cujo destino desconheço quase
completamente. Não sei exatamente para onde vou. A cada momento surgem novos
saberes e meu caminho é refeito.
Não tenho apego ao destino. Me apego ao caminhar. Estou
seguro de que vale a pena caminhar. Essa é a feição da minha jornada espiritual.
A cada dia me refaço e reconstruo minhas trajetórias. Sou um peregrino, e todo
peregrino se realiza enquanto anda, viaja, se move. Minha memória se acumula de
jornadas de insucessos.
Sigo a perspectiva de fé de Tomáš Halík:
Ter fé significa “seguir no encalço”; neste mundo,
toma a forma de uma caminhada infindável. A verdadeira fé religiosa na terra
nunca pode terminar, como se fosse uma busca bem-sucedida de um ou outro objeto
– ou seja, encontrando-o e tomando posse dele –, porque não se orienta para um
fim material, mas para o coração do mistério, que é inesgotável, como um poço
sem fundo.[2]
Sou um peregrino que se reconhece perdido.
Perdido em dois sentidos. Por um lado, me apego à ideia de
que existe alguém que esteja à procura de mim, alguém de quem me desliguei.
Penso que há alguém que pede o meu retorno, tal qual o pai cujo filho decidiu
ir embora e nunca mais deu notícias. Sou o perdido de alguém e vagueio pela vida
sonhando com esse reencontro.
Por outro lado, sou um perdido que não sabe para onde ir. A
vida é para mim um labirinto. Vagueio por becos. Subo, desço, viro à direita,
viro à esquerda, avanço, retrocedo. Chego a lugares novos e volto a lugares pelos quais já passei. Não
sei exatamente para onde irei amanhã. É na aurora que a trajetória de cada dia
é desenhada.
Como
sou um peregrino, não me conformo com a ideia de que não vale a pena vaguear,
mesmo que esteja andando para trás. Vagueio com paixão.
Um
dia chegarei a um destino e este será o último destino.
E,
até esse dia chegar, tentarei fazer das minhas andanças uma experiência de amor
e ternura. Quero peregrinar amando e sonhando.
Greatfull texto....Very god meu..
ResponderExcluirPara peregrinar por dentro. Lindo mesmo.
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