Pedir
impeachment, gritar “Fora Dilma” e “Fora PT” são um benefício da democracia. Ir
à rua e dizer que deseja a queda do governo vigente é um direito democrático intocável.
Em praticamente todos os governos pós 1989 houve pedido de impeachment. Acho
que só Itamar Franco foi poupado. Quem não se lembra da campanha “Fora FHC” encabeçada
pelo PT e pelos movimentos sociais? Houve também o “Fora Lula”. E agora há o “Fora
Dilma”. Esse tipo de clamor e manifestação faz parte da história de nossa jovem
democracia.
Contudo,
algumas coisas nessa onda de pedir impeachment de Dilma me chamam a atenção.
Acho
estranho o fato de o movimento pró impeachment acontecer poucos meses depois
das eleições; também acho estranho o fato de não haver, entre os milhares de
manifestantes, pelo menos 1% que votou na Dilma e agora está inconformado com o
seu princípio de governo, a ponto de rejeitá-lo por completo; também acho
estranho o fato de o pedido dos tais 2 milhões de manifestantes (segundo a notável,
respeitável e incorruptível Organizações Globo) ser julgado mais importante que
o voto de 54 milhões de brasileiros.
Essas
questões, entre tantas outras igualmente importantes, me fazem pensar, pelo
menos por enquanto, que esse grande movimento não passa de histeria coletiva de
gente que não aceita ser contrariada. São meninos mimados que acreditam que, se
forem para as ruas e gritarem “Fora Dilma”, no dia seguinte, seu candidato
derrotado nas urnas instantânea e magicamente tomará posse como presidente da
república.
Um fato
interessante é que essa histeria é um benefício fundamentalmente democrático,
um direito inerente à democracia. Inexplicavelmente, alguns mentecaptos desejam
a suspensão do direito de gritar “Fora Dilma”. Insisto mais um pouco no assunto
pra tentar mostrar o tamanho da merda que é portar um cartaz com os dizeres: “Intervenção
Militar Já”. Vai pedir impeachment de um governo militar pra você ver o que
acontece?
Invocar golpe militar é uma estupidez lógica (se é que isso seja razoavelmente lógico!) tão banal que qualquer primata é capaz de discerni-la. Imagino que alguns deles, quando veem alguém pedir golpe militar, se sentem muito injustiçados pela natureza: “Como é que uma criatura dessas pode ter vencido a corrida evolutiva?”
Invocar golpe militar é uma estupidez lógica (se é que isso seja razoavelmente lógico!) tão banal que qualquer primata é capaz de discerni-la. Imagino que alguns deles, quando veem alguém pedir golpe militar, se sentem muito injustiçados pela natureza: “Como é que uma criatura dessas pode ter vencido a corrida evolutiva?”
Essa multidão
que vocifera “Fora Dilma” e que pede intervenção militar é, na verdade, uma
massa construída pela mídia, formada por eleitores de Aécio, que,
inconformados com o fato de não serem maioria, querem encontrar uma saída para
deslegitimar os 54 milhões de votos que elegeram o atual governo. O que essa
gente quer não é reforma política. O que quer, de verdade, é uma forma (não
democrática) de reverter a derrota nas urnas. Simples assim.
Quem
quer protestar de verdade contra corrupção deve pedir reforma política e o fim
urgente do financiamento empresarial das campanhas.
Pense
comigo.
Você acha
que as empreiteiras investigadas pela operação Lava Jato, que fizeram doação de
98 milhões para as campanhas de Dilma e Aécio, realmente doaram esse dinheiro
todo, ou fizeram um empréstimo? Que empresa em sã consciência doa 1 real que seja a alguém?
Você
realmente acha que o problema de corrupção que está aí é de um partido
específico?
Você
realmente acha que a simples derrubada do governo que está aí e/ou uma nova
eleição (com custo de mais de 200 milhões por chapa a ser financiado por empresas) vai criar um ambiente imune à
corrupção?
Se você
acredita que ir pra rua e gritar “Fora Dilma”, “Fora PT”, “Intervenção Militar
Já” é um ato de politização, sinto muito em dizer que você é, na projeção mais
otimista, uma pessoa bem intencionada, mas profundamente ingênua.
A coisa
é muito mais complicada que simplesmente bater o pé e dizer “Fora Dilma”.
Em
tempo:
votei em
Dilma (mas não sou petista) e estou profundamente decepcionado com esse começo
de governo. A composição ministerial, as alianças com setores e alas políticas
conservadoras, o pacote econômico, entre outras questões, são ações realmente muito
diferentes do que eu esperava. Nesse sentido, se houver uma manifestação que
apresente pautas concretas que apontem para a reinvenção do sistema político
brasileiro (e na qual não haja primatas pedindo intervenção militar), estarei
lá, com certeza.
Caro Sóstenes, lá se vão alguns meses desde a escrita do presente artigo, mas o tema, de lá pra cá, ganhou ainda mais centralidade no debate político nacional. No entanto, gostaria de lhe sugerir o desenvolvimento de um texto que refletisse o envolvimento e a atuação dos evangélicos no atual cenário político nacional. Tenho interesse em ler seus comentários à aversão que os evangélicos tem pela agenda política da esquerda brasileira (política de transferência de renda; investimento e políticas sociais como bolsa-família; taxação de fortunas; reforma agrária e outras propostas). A distribuição desinteressada da renda não é um princípio cristão? Não seriam as teses da esquerda muito mais ajustadas com os princípios do sermão da montanha que a tragédia humanitária causada pelo capitalismo contemporâneo, visto que a concentração de renda nos últimos anos se acentua escandalosamente (exceção são os países que nas últimas décadas adotaram políticas econômicas de esquerda, entre eles o Brasil)? Enfim, pra resumir numa última indagação, são legítimas as intervenções de lideranças evangélicas que convocam seus "rebanhos" contra a implementação do "comunismo" (é isso, mesmo! rs) no Brasil? Obrigado
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