A leitura de autores antigos requer um pouco de
condescendência. Em alguns casos, é preciso considerar o que eles dizem à luz
de seu tempo e do estado em que se encontravam as ciências naquele momento. Não
se pode exigir de Schopenhauer conhecimentos de antropologia linguística,
sociolinguística e variação linguística. Essas disciplinas simplesmente não
existiam naquela época.
Schopenhauer não deve ser criticado por ter escrito algo
como:
Com essa maneira torpe de cortar as sílabas sempre que
possível, todos os maus escrevinhadores mutilam hoje em dia a língua alemã, que
depois não poderá ser restabelecida. Por isso, esses melhoradores da língua
deveriam ser castigados, sem exceção alguma, como crianças bagunceiras na
escola.[1]
Ou:
A única verdadeira vantagem que a nação alemã
tem em relação às restantes, a língua, é anulada levianamente. Pois a língua
alemã é a única em que se pode escrever tão bem quanto em grego e latim,
característica que seria ridículo atribuir às outras principais línguas
europeias, que não passam de dialetos. Comparado com elas, o alemão tem algo de
extraordinariamente nobre e sublime.[2]
O leitor que não consegue reconhecer quais ideias e
proposições do autor já estão superadas pelos conhecimentos científicos atuais
é que deve ser criticado. O demérito não está no autor que escreveu o texto em
1851, mas no leitor que, lendo o texto em 2013, não é capaz de trazer para a
leitura o que dizem a linguística e a antropologia modernas.
Como se vê, a leitura de textos antigos é uma armadilha para
leitores inexperientes e ingênuos. O leitor que toma tudo o que Schopenhauer
disse, em 1851, sobre língua, discurso e texto como um saber intocável não
entendeu nada do que o autor disse. É simplório; precisa estudar mais.
Sua articulação escrita é admirável! Tornou-se uma das minhas fontes. Abraço, Sostenes.
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