As vezes sou meio repetitivo quando o assunto é a prática de
produção textual e leitura. Vivo insistindo que o que importa mesmo é ler e escrever.
O resto é o resto. Exercícios de ortografia devem sempre ser relegados a segundo,
terceiro, quarto planos. Não se pode privilegiar as palavras isoladas em
detrimento do texto. Diante da produção textual de um aluno, o professor jamais
deve focar erros ortográficos. Se fizer isso, inevitavelmente abandonará o que
realmente importa: o sentido que o texto constrói.
É muito difícil vencer o senso comum, ainda mais quando ele
está arraigado na escola. É muito difícil convencer professores que operam com
o senso comum a mudarem sua metodologia. Em se tratando da prática da escrita, a
coisa fica ainda mais complicada quando o próprio professor tem muita dificuldade
com a leitura e com a escrita.
Consideremos o fato que de analisar e avaliar questões
ortográficas é muito mais fácil que avaliar questões textuais. Para se avaliar elementos de textualidade de
uma redação, por exemplo, é necessário que o professor saiba escrever. Se não
souber, acabará inevitavelmente se apegando a questões ortográficas.
Além da dificuldade de se vencer o senso comum dos professores,
há ainda a imensa dificuldade de se vencer o discurso simplista da mídia-burra.
No ano passado, a nossa brilhante mídia-burra criou um alarde enorme em torno de algumas redações do ENEM que alcançaram nota máxima, mesmo tendo palavras
grafadas incorretamente. Pois bem. Quem está errado nessa história? A mídia-burra
que não entende nada de Educação Linguística ou o INEP que elaborou um plano
de avaliação que privilegia o texto, em vez de questiúnculas gramaticais e ortográficas?
Quem você acha que está certo? Se você acha que a mídia-burra
está certa, sugiro que estude um pouco mais e evite falar sobre o que não
entende.
Sírio Possenti, publicou em seu blog, um pequeno artigo sobre esse tema, no qual esclarece que a atividade de verificar detalhes ortográficos e pequenas questões gramaticais é muito mais uma atribuição de quem revisa o texto do que de quem escreve. Ele apresenta um pequeno depoimento de Antonio Prata, cronista da Folha de S. Paulo, que mostra claramente que quem escreve está muito mais preocupado em escrever do que em revisar:
Portanto, parece não restar dúvida de que o INEP está correto em privilegiar o texto em vez da ortografia. Possenti diz contundentemente: “Uma boa redação (nota 1000, talvez) é aquela que, revisada (por outros), merece 1000. Simples assim”.
Sírio Possenti, publicou em seu blog, um pequeno artigo sobre esse tema, no qual esclarece que a atividade de verificar detalhes ortográficos e pequenas questões gramaticais é muito mais uma atribuição de quem revisa o texto do que de quem escreve. Ele apresenta um pequeno depoimento de Antonio Prata, cronista da Folha de S. Paulo, que mostra claramente que quem escreve está muito mais preocupado em escrever do que em revisar:
Toda terça, lá pelas quatro da tarde, envio a crônica para a
Andressa Taffarel, a Lívia Scatena e a Daniela Mercier, redatoras aqui do
“Cotidiano”. Duas horas depois, mais ou menos, uma delas me devolve o texto com
todos os meus descalabros diligentemente corrigidos e grifados de amarelo. São
erros de ortografia e de digitação, vírgulas e mais vírgulas que vão pro
beleléu, um ou outro ajuste ao padrão Folha – séculos “XXI” que se adéquam aos
ditames do 21, “cowboys” que aprendem a falar sem a afetação do sotaque, como
bons caubóis, “quinze pras seis” que trocam a imprecisão das letras pela
pontualidade dos números: 17h45.
Portanto, parece não restar dúvida de que o INEP está correto em privilegiar o texto em vez da ortografia. Possenti diz contundentemente: “Uma boa redação (nota 1000, talvez) é aquela que, revisada (por outros), merece 1000. Simples assim”.
Quero deixar claro que, quando digo que produzir um texto é
muito mais importante que saber a grafia de alguma palavra esquisita, não estou
inventando a roda. Esse tema é debatido e amplamente pesquisado no ambiente
acadêmico desde a década de 1980. O problema é que, infelizmente, os resultados
desse debate têm demorado muito chegar à Educação Básica. Já há muito tempo nossos professores e alunos
deveriam saber que o essencial é escrever, não soletrar e/ou grafar palavras. E
isso vale tanto para o 3º ano do Ensino Fundamental quanto para o 3º ano do
Ensino Médio.
Infelizmente programas de televisão, como o “Soletrando”, do
Caldeirão do Huck, alimentam ainda mais a ideia absurda de que saber soletrar e
grafar significa alguma coisa. A verdade é que ninguém escreve bem porque sabe
soletrar e grafar palavras bizarras como “exéquias”. Por outro lado, muita gente que
escreve bem certamente teria dificuldade em soletrar e grafar essa palavra.
Enfim, escrever é preciso, ortografar não é preciso. Não
custa lembrar que o corretor eletrônico do Word sabe quase tudo sobre
ortografia, mas é incapaz de escrever um texto elementar de dois períodos. Então,
o que você prefere: escrever ou ortografar?
Será que preciso fazer uma opção entre e outro? Por que não posso desejar os dois? Ortografar não é uma consequência de quem lê e escreve rotineiramente?
ResponderExcluirOlá, Professor!
ResponderExcluirO seu texto traz elementos que nos permitem pensar algumas questões acerca do tema e, mais precisamente, em relação aos "programas televisivos paragramaticais" (Soletrando; Nossa língua portuguesa; Afinando a língua, etc) que carecem de uma formação científica necessária para executarem o trabalho que se propõem a fazer.
Dentro dessa perspectiva, lembrei de um texto que eu havia escrito em março de 2010, no qual foi feito uma crítica à ideologia perpetuada pelo programa paragramatical Soletrando, isto é, a ideologia de que saber Soletrar é um referencial de qualidade educacional, tanto do aluno quanto da escola.
http://dineyvasco.blogspot.com.br/2010/03/quem-nao-se-lembra-de-ter-visto-em.html
Obrigado!!
Até mais!!
Acho que um complementa o outro (ortografia e escrita), pois se não fosse necessária (da forma que você coloca), então porque a necessidade de revisar o texto? Como disse André Lima, quem lê e escreve com freqüência, conseqüentemente terá uma boa ortografia.
ResponderExcluireu não tenho a sorte de ter um corretor pra corrigir meus testos poriIço ficou essa porcaria. Vosses que se virem pá entreter o que eu quero fala, já que ortografia nao enterÇa mas daqui a 20 anus a língua portugeza sera otra e nimgem vai se intende por escrivisao, te vira.
ResponderExcluirExcelente texto !
ResponderExcluirDevemos levar essa reflexão para além das salas do ensino superior e torna la acessível a todos, inclusive aos que se mantêm na ignorância do culto ao português “Brasil colônia” !
A língua é um instrumento de comunicação e conexão entre indivíduos. Em uma sociedade que se transforma a cada minuto, ela se torna viva, e com vida, se movimenta. Portanto deve se prevalecer a mensagem ao grafismo.