Para ser coerente, devo começar dizendo que, caso você
constate, já nas primeiras linhas, que este texto vai fazê-lo ficar irritado,
seria melhor não ler.
Meu conselho é:
Seja forte, recuse a leitura de qualquer
texto que não lhe fará bem. Grande parte de sua saúde depende disso. É claro
que não estou falando de textos teóricos, acadêmicos e outros que são
fundamentais para sua formação, vida profissional etc. Estou falando de textos
casuais como este artigo, que você lê espontaneamente.
Lucidez, saúde emocional, coerência ética e serenidade
dependem, em grande parte, de nossa capacidade de recusar informação. Isso não
é fácil atualmente. Para todo lado, existe um texto ocupando nosso campo visual
e nos constrangendo a lê-lo. A infamação não precisa mais ser procurada; ela
invade nossos espaços. E informação invasiva, como qualquer outra coisa, viola
a integridade, faz adoecer, mutila, embrutece.
Atualmente, os textos são/estão avassaladoramente onipresentes.
Boa parte de nossas respostas emocionais, éticas e espirituais são determinadas
por textos que, embora nada tenham a ver conosco, estão intimamente presentes
em nossas vidas. São textos que violam nossa integridade e começam a ditar os
rumos de nossos sentimentos, sem que nós os buscássemos. Quem consegue fazer
uma boa leitura de suas emoções é capaz de notar que boa parte da raiva que
sente está relacionada a textos e informações que poderiam ter sido recusados.
Num contexto em que há pouca restrição à informação, a busca
pela saúde emocional, ética e espiritual passa certamente pela capacidade de
renunciar deliberadamente a leitura e escuta de certos textos. Eu me pergunto:
se um texto não vai contribuir para me tornar menos pior do que sou, por que
lê-lo?
Penso que se a leitura de um texto vai me deixar indignado
com quem o escreveu – por eu achar que o autor tem uma visão
fundamentalista – não há razão plausível para eu lê-lo. Nesse caso, a
atitude mais sensata seria não ler, não ouvir.
Foi por essa razão que decidi não ler uma linha sequer de
qualquer texto que tentasse explicar a tragédia de #SantaMaria sob o prisma
religioso. A leitura de um texto que buscasse racionalizar ou justificar a dor
de quem perdeu (e todos nós perdemos) me faria muito mal. Se para mim, “justificar
a dor do próximo é, sem dúvida, a fonte de toda imoralidade”, como diz Levinás,
então, por que ler um texto cheio de imoralidade? Só para eu ficar com raiva?
Por quê?
Preciso salvar minha alma. E, para isso, preciso mantê-la
distante dos absurdos éticos que cercam as explicações religiosas que se dão
para a dor e o sofrimento. Para mim, simplesmente não há justificativa ou
explicação religiosa alguma para as feridas que, neste momento, estão dilacerando
a vida de tanta gente no mundo.
Voltando ao tema principal deste artigo, finalizo chamando a
atenção para um dos grandes males de nossa época: a dependência da informação.
Nos tornamos uma geração de viciados em comunicação. Quanto mais, mais. E, como
qualquer outro entorpecente, a informação só nos faz ficar cada vez mais
doentes. Nosso vício, como qualquer outro, requer porções cada vez maiores para nos dar um mínimo de gratificação. A informação está nos adoecendo, nos
embrutecendo.
De certo modo, admiro a fala (sincera) de quem, estando numa
roda que comenta o assunto do dia, diz: “Não ouvi ou li nada a respeito, não
sei do que se trata”. A desinformação não é de tudo ruim.