Sou professor, não um coitado. Peço que a mídia e sociedade me tratem com dignidade profissional. Não preciso que tenham pena de mim. Não preciso
de condolências. Na verdade, a sociedade, como um todo, deveria ter pena
de si mesma, não de mim. Se a mídia e a sociedade acham mesmo que estou na
miséria, então é bom que comecem a preparar o próprio funeral.
Sou professor, não um missionário da educação. Não trabalho apenas por amor a profissão. Como qualquer outro profissional, trabalho para ser
dignamente remunerado. Não vou completar a baixa remuneração com filantropia, trabalho
voluntário. Não sou amigo ou voluntário da escola. Sou um profissional que
desempenha aí suas atividades, devendo, para isso, ser adequadamente pago.
Também não tenho a missão de salvar a educação. Na verdade,
não quero e não tenho a menor condição de fazer isso. Professor não é redentor.
Se a educação está perdida, quem tem a responsabilidade de apontar o caminho da
redenção é o Estado, não eu.
Também não tenho a missão de salvar nenhum aluno que,
porventura, se encontre em alguma situação de risco social. Na verdade, não
quero salvar ninguém. É o Estado que deve criar, promover e manter políticas
públicas que diminuam as situações de risco social.
Sou professor, não tio. Não trabalho para suprir demandas afetivas (de natureza familiar) dos alunos. Minha responsabilidade profissional é, sobretudo, social, não afetiva.
Não sou a extensão do pai ou da mãe de ninguém. Isso não quer dizer que minha
atuação não seja carregada de afetividade. É sim. Mas não posso incorporar ao meu
trabalho o papel de pai ou mãe; não posso me julgar capaz de satisfazer demandas
afetivas dos alunos. Se eu fizer isso, vou comprometer a qualidade técnica de meu
trabalho.
Este pequeno texto é uma espécie de protesto, um desabafo. Não é um artigo. Não me preocupei em apresentar base teórica ou dados de pesquisa que sustem (ou não) o que disse. Eu apenas quis expressar uma indignação que volta e meia sinto. Estou mesmo cansado de ser tratado com estereótipos e caricaturas. Quero respeito. Quero que meu país
me veja como um profissional importante para qualquer projeto que se queira
para esta nação, não como um coitado ou um redentor.
Encerro com um mantra (surrado, mas verdadeiro) muito frequente em livros (de autoajuda) da área de educação:
Sonho com o dia em que se reconhecerá que uma nação forte se constrói em sala de aula. Sem um projeto educacional amplo, que inclua a reestruturação da carreira docente, não há projeto de nação que se sustente.
Sonho com o dia em que se reconhecerá que uma nação forte se constrói em sala de aula. Sem um projeto educacional amplo, que inclua a reestruturação da carreira docente, não há projeto de nação que se sustente.
Texto perfeito. Faço das suas palavras, as minhas.
ResponderExcluirSou professora dos pequenos (educação infantil). Sinto o mesmo. Assino em baixo.
ResponderExcluirAMEI!DESABAFO POR UM SÓ INDIVÍDUO MAS,QUE SE TORNOU DESABAFO COLETIVO DE PROFESSORES.
ResponderExcluirPARABÉNS!
TAMBÉM ASSINAREI ESSE TEXTO,DÁ LICENÇA!
PROFESSORA CECÍLIA FRAZÃO
Esse desabafo é, em palavras, símbolo de motivação.
ResponderExcluirNós somos o resultado da educação que recebemos. Lindas palavras!
ResponderExcluirExcelente texto!! serve para reflexão para o governo e sociedade em geral...
ResponderExcluirNossa, esse texto é tudo que eu queria falar. acredito que deve estar entalado nas gargantas dos professorados por aí... MARAVILHOSO!!!!!
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