Os blogs são mesmo um caminho sem volta, tanto para o mundo da
indústria da informação quanto para quem consome e reindustrializa seus
produtos: os leitores/autores.
O universo jornalístico e publicitário já está notando que
os blogs não são rivais; são aliados importantes que vão lhe garantir permanência
no mercado. Os blogs despontam como uma espécie de loja de varejo de informação,
formação e entretenimento, enquanto portais, jornais e revistas vêm se especializando
no trabalho de indústria e fornecimento por atacado. Hoje, já é provável que o
internauta acesse uma matéria de revista (Superinteressante, por exemplo)
primeiramente via blog. São poucos os ciberleitores que vão primeiro ao site da
revista. Depois de lida a matéria no blog, talvez o leitor até se dirija ao
site de origem, via link, para ver se algo mais lhes interessa.
Os leitores/autores também vêm notando que os blogs são sua
única saída para fazer valer seu direito de ampla expressão. Há nas mídias
tradicionais uma forte restrição à fala do leitor. Ouvir rádio, ver televisão,
assistir a um filme, ler um livro, ler jornal, ler revista etc. são atividades
que impõem ao interlocutor uma condição de dominação e assujeitamento. O modo
de operação dessas mídias praticamente força o leitor a se calar. Se alguém
quiser realmente fazer seu texto circular nesse mercado extremamente
corporativo, terá de superar uma série de entraves culturais, técnicos, econômicos
etc. As mídias unidirecionais incentivaram bastante a prática da leitura, é
verdade. Mas, por limitações técnicas, deixaram os leitores sem condições de responder,
dialogar. E eles, notando que essas mídias estão lhes interditando um direito fundamental
– o de exprimir seu mundo, seu locus sociocultural
– não mais se resignam com isso.
A migração dos jornais e revistas para internet forneceu recursos
mais acessíveis para o leitor dizer o que pensa. As caixas de texto, destinadas
ao comentário, têm sido um instrumento importante para os leitores dialogarem tanto
com o jornal/revista quanto com outros leitores. Através desse recurso eles
podem dizer que a cobertura de um evento foi superficial, que uma notícia ou
reportagem está mal elaborada etc. Contudo, somente leitores menos experientes
se satisfazem com apenas essa possibilidade. Leitores mais experimentados, e
com demanda de escrita, não se contentam em simplesmente postar um comentário,
em fazer adendos a textos alheios. Eles querem escrever seus próprios textos e
se tornarem leitores/autores emancipados.
Os blogs são uma invenção extraordinária. Finalmente, as Tecnologias
de Informação e Comunicação (TIC) criaram uma mídia centrada nos interlocutores,
dando-lhes poder para enfrentar a força dos grandes impérios da informação (ou
seria desinformação?). As redes sociais também são uma boa invenção, mas com
certas limitações, que impedem o aprofundamento do texto. Leitores/autores, que
manejam bem a escrita, não se contentam em apenas postar um pequeno texto no Facebook
ou Twitter. Eles querem escrever ou reproduzir um texto mais denso, que consiga
aprofundar a representação e interpretação que têm de sua realidade social.
A blogosfera está em alta e vem se despontando como um
ambiente profissional, informativo e formativo bastante promissor. Os blogs, ao
lado de outras mídias interativas, podem se transformar numa importante agência
social de informação e formação, e assim contribuir para a construção de um leitor-cidadão,
que seja capaz de interpretar a realidade de forma mais autônoma e crítica. O
acesso a uma matriz de informação e opinião alternativa, com pouca ligação com os
grandes centros do poder, dá condições para que o cidadão-leitor enxergue
melhor certos compromissos ideológicos que dão sustentação à indústria da
informação oficial e hegemônica.
Docente na Universidade Estadual de Goiás (UEG). Doutor em Linguística
(UnB) e pesquisador na área de Gêneros Textuais e Mídias.
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Texto publicado em: https://impresso.dm.com.br/edicao/20131219/pagina/29#
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Texto publicado em: https://impresso.dm.com.br/edicao/20131219/pagina/29#
Interessantíssimo seu post, Sóstenes! Concordo com o que você disse, e seu blog reforça ainda mais sua ideia, ele está aqui fruto de um leitor/ autor que manejam bem a escrita, é crítico, quer mostrar o que pensa e quer escrever seus próprios textos.
ResponderExcluirÉ interessante observar essa certa liberdade, mas devemos ser bem sensatos em saber que muita coisa escrita em muitos blogs é perigosa, sem embasamento, superficial, inverdade. Pra mim, o perigo também é esse, mas que não tem como se controlar, se não, não existiria liberdade em se escrever o que quer.
Só acho que devemos aproveitar essa multiplicidade de dizeres, e quando necessário denunciar o que extrapolou a liberdade individual e chegou ao ponto de ferir a liberdade alheia.
E é claro, experimentar a sensação de ter seu espaço virtual de escrita é uma sensação incrível, ainda mais quando as pessoas te leem e comentam com você!
Acontece que justamente por essa facilidade de resposta, muita gente que não tem competência pra responder sobre determinado assunto se sente na direito de responder. Essa facilidade exagerada não tem só consequências boas. O obstáculo "unidirecional" também é bom e pode funcionar como uma peneira. Quem não tem nada de importante pra falar não vai passar pelos obstáculos pra publicar sua baboseira. Nem todo mundo tem realmente o que falar.
ResponderExcluirMuito bom mesmo esse texto. Recomendei aos mestrandos que estão pesquisando a leitura e a escrita na internet, especialmente os blogs.
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