As religiões são como grandes poemas, grandes sonhos humanos, os mais ousados sonhos humanos, aqueles que nos fazem saltar os limites da necessidade; são criações imensas do espírito humano que os grandes mestres sonharam e ensinaram os homens a sonhar durante milhares de anos.
Nesses sonhos, como nos poemas, os grandes homens não queriam
fugir da realidade, mas penetrá-la profundamente.
[Mariano
Corbí*]
Quando cito um trecho do mito de Prometeu, não preciso dizer a ninguém que não estou tomando a narrativa como história, mas como mito. Mas se eu resolver citar um trecho da história da Torre de Babel, devo começar dizendo que se trata de um mito, para não ser tachado de estúpido. Por que preciso dizer que Torre de Babel é um mito? Isso deveria ser um pressuposto básico.
Quando digo que Prometeu é o inventor da tecnologia ninguém
acha que estou tratando Prometeu como um sujeito histórico. Mas se falo
de Jó, a maioria das
pessoas acha que estou me referindo a um sujeito histórico. Caso eu queira ser
compreendido de outra forma, devo dizer expressamente que Jó é personagem de uma
narrativa/debate de sabedoria trágico-épico, não um sujeito histórico como Moisés.
Gostaria que certos pressupostos básicos aplicados às
narrativas míticas e fantásticas (não bíblicas) também fossem aplicados a
certas narrativas bíblicas. Por exemplo, quando conto a história de Branca de Neve, ninguém me
pergunta se eu acredito ou não em Branca
de Neve. As pessoas simplesmente ouvem e fruem a história, tirando dela
lições éticas e, até, valores transcendentes. Por que, quando conto a história
da Serpente no Éden,
as pessoas não aplicam o mesmo pressuposto? Por que preciso responder se
acredito ou não em serpentes falantes?
A bíblia é para mim, sobretudo, um livro de poesia. Rubem
Alves** me ensinou que Deus é
um poeta, não um repórter ou historiador. Em Teologia
do cotidiano, ele diz: “Eu leio os textos sagrados como quem lê poesia e
não como quem lê jornal. Prefiro pensar que Deus é poeta a imaginá-lo como dono
de um jornal. Existirá ofensa maior para um poeta que perguntar se o seu poema
é reportagem?”.
_______________________
* Corbí, Mariano. Religión sin religión. Madrid: PPC, 1996.
p. 131.
** Alves, Rubem. Teologia do cotidiano. São Paulo: Olho D’água,
1994. p. 63.
Maravilhoso! Amei!!!!
ResponderExcluiré verdade...a essência de excelentes textos biblicos se perde nos devaneios de comprovação cientifica ou teologia! E é assim que inutilizam tais textos!!
ResponderExcluirMuito bom!!
Perfeito professor
ResponderExcluirMuitos se perdem nos debates se foi ou não fato historico buscando comprovação cientifica para aquilo que esta para alem desta temtatica. O fato é que a verdade que Deus quis que soubessemos esta contida naqueles textos que pela razão pura são inconcebíveis, mas que pela fé são verdadeiros. Para considerá-los verdadeiros tem de experimentar a fé que funciona como um salto.
ResponderExcluirCleiton Nerys
A Bíblia Sagrada é a Palavra de Deus. Ela é a verdade e ponto final. Você falar que Deus é um poeta, que a história do Édem é uma alegoria... você está negando a Bíblia como um livro de fé, e está pior que o infiel. Desculpe-me amigo, mas para mim isso que você publicou é anátema. Deus não está neste negócio. "As muitas letras te faz delirar".
ResponderExcluirCalma meu irmão acredito que o nobre não tenha entendido a profundez do texto. Porém, o que aparenta ser um descaso é a mais perfeita argumentação da existência Divina. Pode acreditar. Este texto é um texto perfeitamente crente. heheheheh.
ExcluirAbraços e fique na Paz do Senhor Jesus.
Deus é a própria poesia, pois os poetas precisam de inspiração para escreverem, e Deus é a própria inspiração. Ou seja, a criação do mundo, e as escrituras são expressões de uma vontade própria e totalmente independente, o que justificaria dizer de forma aparentemente arrogante, mas no contexto da humildade e até mesmo da ignorância: "Deus é Deus", e pronto.
ResponderExcluirAbraços a todos.
E nobre professor obrigado por compartilhar suas inspirações conosco, pois desta forma o voce nos inspira.
A Paz do Senhor para todos.
Glaydon, o Sóstenes é meu amigo bem antes dele ser o seu professor. Foi meu professor também, portanto eu o conheço e ele me conhece. Ele sabe que o admiro muito, apesar de não concordar com algumas de suas idéias e nós já conversamos sobre isso. Você entendeu, crente?
ResponderExcluirSim. Senhor!!!
ExcluirEm posição de sentido!
Para descontrair.
Abraços meu querido irmão.
Sempre pronto para ouvir e humilde para entender o que se lê. Ainda que tenha que ler mais de um vez.
Perdoe o mau entendido de minha parte.
A paz do Senhor Jesus!